sábado, 16 de abril de 2011

Câmara Setorial defende, em Salvador, inserção do cacau em programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono

Aproveitando a estruturação do Programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) do Ministério da Agricultura no estado da Bahia, o Presidente da Câmara Setorial do Cacau e Secretário Executivo do Instituto Cabruca, Durval Libânio, defendeu a inclusão do sistema produtivo Cacau-Cabruca entre as lavouras a serem apoiadas. “Dos 11 estados contemplados inicialmente pelo Programa ABC, a Bahia é o único a trabalhar com o cultivo conservacionista do cacau que, apesar de ter sido enquadrado na linha de financiamento do FNE Verde do Banco do Nordeste, não está ainda contemplado pelo Programa do Ministério”, explica Durval Libânio.

Na reunião, Libânio fez a apresentação do sistema agroflorestal, considerado exemplo em cultivo conservacionista. Ele ressalta que o sistema contribui para a conservação da água e do solo, para a biodiversidade, para o seqüestro de carbono e para a conservação de importantes espécies da Mata Atlântica, além de trazer outras fontes de renda para o produtor, como o manejo de madeira morta, por exemplo.

Além de produtor, Durval Libânio é ligado a causa ambiental, sendo a primeira vez que alguém com este perfil preside uma Câmara Setorial do Agronegócio, geralmente liderada apenas por produtores tradicionais. A mudança sinaliza uma quebra de paradigma e representa a sinalização do setor em busca do Desenvolvimento Sustentável e da consolidação ainda maior da cacauicultura como lavoura conservacionista. Apesar de ser nativo da Amazônia, foi com a sombra das árvores da Mata Atlântica na Bahia, que ele prosperou e se desenvolveu. De acordo com informações da Câmara Setorial do Cacau, o Estado tem 32 mil produtores, responsáveis por 70% da produção de cacau do País. Em 2010, a produção baiana foi de 160 mil toneladas, enquanto o Brasil produziu 200 mil toneladas desta amêndoa.


Programa ABC

O ABC tem como missão reverter o modelo predominante de exploração agrícola de altas emissões de gás carbônico e recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas, expandir o plantio direto (que não revolve o solo) dos atuais 25 milhões para 33 milhões de hectares, além de disponibilizar uma linha de crédito para florestas comerciais de eucalipto e pinus. Na prática, a Programa tem como proposta promover o desenvolvimento sustentável das áreas de produção como lavoura, pecuária, floresta, a recuperação de áreas degradadas, o uso de plantio direto, o plantio de florestas e a fixação biológica de nitrogênio.

Brasil começa a provar ao mundo o valor de seu café

País tem superado o estigma de fornecedor de 'café genérico' para firmar uma imagem de produtor de qualidade no mercado internacional.

Quando um americano pensa num bom café, possivelmente a primeira origem que lhe vem à mente é a Colômbia. Desde a década de 80, o país vizinho investe em ações de ‘marketing’ da bebida com foco no consumidor, o que ajudou a construir uma fama de produtor refinado. Já o Brasil, de longe o maior produtor e exportador da commodity (veja o mapa do café no mundo), não goza do mesmo prestígio. A principal explicação para o descompasso é que, por décadas, o país esteve mais preocupado em ganhar volume nos negócios com o mercado internacional – e não se importava tanto em ser visto como exportador de um café mediano. Mas isso tem mudado graças a articulação de produtores, investimento em tecnologia e, é claro, marketing. Em janeiro, a Bolsa de Nova York começou a negociar o café brasileiro tipo arábica lavado. É o início do reconhecimento de vinte anos de trabalho. “A aceitação deste tipo de café na bolsa de Nova York é uma prova de que a qualidade do produto brasileiro está sendo reconhecida. Os padrões da bolsa são para produções pequenas, de colheita manual. É o mesmo padrão do colombiano”, explica Eduardo Heron, consultor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

O caminho para a consagração global, no entanto, é longo. O trabalho é contínuo e seus frutos, visíveis apenas no longo prazo. Mas o investimento em qualidade e beneficiamento do produto, além da promoção comercial propriamente dita, vale a pena. Assumir uma posição ‘mais nobre’ neste mercado significa ter maior poder de barganha para negociar preços no mercado internacional.

Das mais de 30 milhões de sacas de grão exportadas pelo país anualmente, apenas 3,9 milhões de sacas são de cafés finos. Considerando uma produção anual de 47 milhões de sacas, esse número poderia ser bem maior. A diferença de preço entre a saca de um café normal e um especial, ou fino, pode chegar até a 200 reais. E o valor não depende apenas do processo de produção, mas também de como se trabalha a imagem do que é vendido.

Diferentemente da Colômbia, o Brasil ainda não usou todo o poder do marketing para se firmar como um produtor de qualidade. Por outro lado, garantem os especialistas, já fez um belo trabalho no que diz respeito a melhoramento genético; adaptação das variedades de planta às diferentes características de solo, insolação e regime de chuvas; entre outras medidas. Soma-se isso à presença histórica da atividade na economia para se ter um quadro multifacetado: variedade de produto, desde os mais ‘básicos’ até os mais sofisticados; onze regiões produtoras, inúmeros microrregiões, etc. “Temos muitos tipos de café e toda essa diversidade dificulta um posicionamento único”, explica Maria Fernanda Brando, da consultoria especializada em café P&A Marketing.

Até poucos anos atrás, as ferramentas de divulgação do produto brasileiro no exterior eram fragmentadas, com algumas fazendas e regiões mais organizadas que outras. Para mudar esse quadro, representantes das principais regiões cafeeiras juntaram-se na Associação Brasileira das Origens Produtoras de Café. O novo órgão tem a função de promover internacionalmente todas as áreas produtoras sob o slogan “Um país, Várias origens”. “Até hoje os americanos acham que o café brasileiro é produzido em Santos porque a maior parte da produção exportada é embarcada no Porto de Santos, com o carimbo de lá. Não se divulgam as origens”, reclama o produtor José Augusto Rizental, que lidera a associação recém-criada. O objetivo é fazer com que os grandes compradores mundiais diferenciem cada café e saibam que podem encontrar no Brasil todos os tipos necessários para constituir seus blends (misturas que buscam harmonizar características dos diferentes grãos, como acidez e doçura).

Mesmo sem um plano unificado para vender o produto no exterior, o Brasil tem registrado conquistas importantes nos últimos anos. A partir da década de 90, alguns produtores conseguiram aumentar a qualidade do café por meio da modernização dos negócios, investimento em pesquisa, renovação das áreas plantadas, corte de custos e aumento da produtividade. Como resultado, o mercado de café especial no país expande-se a um ritmo de 15% ao ano no país, enquanto o normal cresce 2%, segundo a Brazil Specialty Coffee Association (BSCA) – associação focada em café finos, com 36 produtores certificados, a sua maioria do Cerrado Mineiro. “É um momento de transição na imagem do café brasileiro”, afirma Eduardo Heron, da Cecafé. A boa notícia é que o país parece estar firme no caminho.

Fonte/Autor: Veja

Imagem: Beatriz Ferrari


domingo, 3 de abril de 2011

Uso da madeira pode beneficiar as florestas


Em um primeiro momento, a ideia pode parecer controversa, mas segundo especialistas - reunidos no evento de lançamento do livro “Madeira de ponta a ponta: o caminho desde a floresta até o consumo” -, incentivar o uso da madeira proveniente de manejo sustentável pode ser o segredo para garantir a preservação das nossas florestas.

O discurso de que não devemos, em hipótese alguma,
derrubar árvores está tão presente no nosso dia a dia que grande parte da população vê o setor madeireiro como um ramo criminoso, que ganha dinheiro às custas da destruição das florestas. Mas não é bem assim: a utilização da madeira proveniente de manejo sustentável não ameaça a biodiversidade e, mais do que isso, pode ser fundamental para garantir a preservação das nossas matas.

Pelo menos é o que garantem os especialistas reunidos em São Paulo, ontem, 29/03, para o lançamento do livro Madeira de ponta a ponta: o caminho desde a floresta até o consumo, produzido pela RAA - Rede Amigos da Amazônia, do GVces - Centro de Estudos em Sustentabilidade e do GVceapg - Centro de Estudos em Administração Pública e Governo, ambos da FGV.

"Há mitos na sociedade de que as florestas devem ser intocáveis e de que o uso da madeira é uma atividade criminosa, quando, na verdade, o que acontece é exatamente o contrário: atribuir valor econômico às florestas - e, consequentemente, incentivar a produção sustentável de madeira - pode ser a única ferramenta eficaz, hoje, para protegê-las", disse Estevão Braga, engenheiro ambiental e técnico do WWF-Brasil. Ele ainda lembrou que há outras atividades econômicas que podem ser realizadas de forma sustentável nas florestas, garantindo sua preservação e, também, a prosperidade econômica da região onde está situada, como, por exemplo, a extração de castanha-do-pará, borracha e bambu, no caso da floresta Amazônica.

A MADEIRA NÃO PRECISA DE SUBSTITUTA


Segundo Braga, a falta de informação faz com que muitos passem a buscar alternativas para o uso da madeira e acabem por optar por materiais que, muitas vezes, são mais insustentáveis. "É o caso do aço ou do alumínio, por exemplo, que gasta 750 vezes mais energia do que a madeira para ser produzido e, ainda, é menos duradouro", afirmou.


Para mudar essa realidade, é preciso conscientizar os consumidores sobre os benefícios da utilização da madeira proveniente de manejo sustentável. Mas, na opinião do
Capitão Marcos Diniz, da Polícia Ambiental de São Paulo, esse processo de educação ambiental não deve acontecer imediatamente. "Atualmente, 33% da produção madeireira amazônica é ilegal e, segundo o Imazon - Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, apenas 5% das atividades de manejo sustentável do país são 100% regulares. Ou seja, o modelo de produção madeireira ainda é extremamente predatório e dizer, agora, à sociedade que o consumo de madeira legal é benéfico pode ser extremamente perigoso. Muitos passarão a utilizar mais madeira, mas sem se certificar de que, realmente, estão usando um recurso legal. Principalmente, porque a madeira ilegal é mais barata", pontuou o Cap. Diniz.

Para ele, primeiro é necessário combater o comércio de madeira ilegal no país para, depois, estimular esse mercado. "Ou seja, a ação imediata deve ser a
fiscalização do produtor e, também, do consumidor. A Polícia Militar de São Paulo realiza esse trabalho de fiscalização distante, junto ao comprador, e pode atestar sua eficiência. Afinal, na economia, a demanda gera a oferta. Se os atuais consumidores deixarem de se interessar pela madeira ilegal, ela será exterminada da cadeia brasileira", destacou.

O PAPEL FUNDAMENTAL DO GOVERNO


Além de ser responsável por fiscalizar a
cadeia madeireira e criar políticas de incentivo ao comércio legal do recurso, o governo também é um dos principais compradores de madeira do país, o que reforça sua importância na luta pelo fim das atividades criminosas no setor. "Os governos subnacionais são responsáveis pelo consumo de cerca de um terço de toda a madeira que é produzida no país, por conta das obras públicas. Logo, detêm o poder enquanto reguladores e, também, compradores", afirmou Mário Aquino, coordenador do GVceapg.

Carlos Resende, secretário-adjunto de Florestas do Acre, , concorda: "Os grandes compradores são o melhor mecanismo de valorização das nossas matas. Afinal, ninguém desmata porque não simpatiza com a floresta, mas sim porque quer dinheiro. Se o consumidor passar a exigir madeira de origem legal, quem não se adaptar a essa realidade vai sumir do mapa". O político ainda disse que, no Acre, cerca de 96% da produção madeireira já é de manejo florestal, mas infelizmente esta não é a realidade da maioria dos Estados da Amazônia, o que faz com que o problema da produção ilegal de madeira seja gravíssimo. "Até porque, nos últimos 100 anos, cerca de 40% das florestas do mundo já deixaram de existir. Estamos correndo contra o tempo", lembrou Resende.


O livro Madeira de ponta a ponta: o caminho desde a floresta até o consumoestá disponível para download, na íntegra, no site da
RAA.

Fonte/Autor:
Débora Spitzcovsky - Edição: Mônica Nunes/ Planeta Sustentável
Foto Reprodução